quinta-feira, 8 de março de 2012

A dor e a delícia de ser mulher: 
uma homenagem à força das mulheres
   Sempre quis fazer uma tatuagem. Quando me animei, já na sala de espera, falei que estava com medo da dor. Um garotão que aguardava para colocar um piercing me disse:
   - Você é mulher, vai aguentar a dor.
   Sábio garoto. Nós mulheres temos a estranha mania de aguentar as dores do mundo. Como a representação de Maria, em Magnificat? Talvez. A partir dali a quantificar as dores, e não são poucas que nós mulheres sentimos.
   Dor menstrual; da primeira, menarca; da ausência, menopausa. A dor da falta de um telefonema de quem gostamos. A dor da injustiça, quando o colega que trabalhava meio turno, ganhava o dobro do meu salário, e tínhamos currículo e tempo de serviço semelhantes. A dor de um fim de relacionamento, da troca, da incompreensão.
   Nós mulheres temos a inteligência intuitiva bem desenvolvida que nos permite sentir mais dores, mas percebermos detalhes com nitidez. Essa intuição nos deve vir a favor. Temos a impressionante capacidade de reverter as dores, e transformá-las em prazer e humor, mesmo que não saibamos disso.
   Aconselho amigas, a nunca chorarem mais que cinco minutos por seja lá o que for. No dia seguinte, bolsinhas de água vão se alojar embaixo de seus olhos. Quando chegarem ao emprego, na aula, na casa de um amigo vão ter que dar desculpas: "estou me gripando", ou, "a insônia foi terrível essa noite". Faço assim, se choro, olho para o espelho e tento sorrir. Até bom que o lábio fique torto, vai ser engraçado, aí vocês vão rir mesmo. Uma vez sorrindo, começam a mudar as coisas. Rir de nós mesmos, ou da situação, transforma tudo em humor, e o bom humor vence.
   Mesmo que estivermos por dentro como gelos despedaçados, um riso para nós mesmas é possível. Somos mulheres temos essa capacidade, e a principal de todas, de percebermos os detalhes, como a simples intenção de uma alegria furtiva que pode por fim resgatar a maior de todas: nossa dignidade.
Ana Cecília Romeu
Publicitária e escritora